Problemas como ansiedade, estresse e depressão finalmente estão deixando de ser um tabu. Entenda como preparar o ambiente corporativo para isso.
Você sabia que o segundo maior caso de abstenção no trabalho são os problemas psicológicos? Apesar de comum, esses episódios ainda são um tabu enfrentado em muitas empresas. Termos como “frescura” ou “loucura” continuam a ser usados para situações como essa. Para entender o problema e como podemos mudar isso, conversamos com Ana Merzel, coordenadora da psicologia do Einstein. Confira abaixo!
Novas demandas da saúde mental
Recentemente um caso ocorrido nos EUA ganhou destaque na internet. Uma funcionária não estava se sentindo bem psicologicamente para ir ao trabalho e enviou um e-mail ao seu chefe. Ele prontamente respondeu sugerindo um dia de folga para a funcionária e orientou-a procurar um profissional da saúde que pudesse auxiliá-la.
Ana Merzel explica como podemos tornar isso uma situação padrão. “Em primeiro lugar: temos que falar de possíveis problemas como falamos de qualquer doença, como uma diabetes ou enxaqueca. Quebrar o tabu começa pelo fato de tornar o problema algo a ser encarado com normalidade”.
O gestor precisa conhecer o profissional que está sob sua supervisão e entender que cada um é um ser humano antes de ser um profissional. Quando o profissional avisa sobre o problema e mantém um diálogo aberto, o gestor sabe que não é mentira e não dá margens para que outros possam pensar que se trata de uma “frescura”.
“A empatia tem que existir de ambos os lados”, afirma Ana Merzel. A psicóloga também comenta que planos para compensar a falta do profissional devem ser feitos caso uma folga ou um dia ausente seja necessário. Soluções pontuais que ajudam a minimizar o impacto da falta. E isso deve ser combinado por todas as partes envolvidas. Contar com a ajuda do grupo é fundamental.
Preconceito
O preconceito com transtornos psicológicos ainda existe e é uma grande barreira contra o tratamento e aceitação desses problemas na sociedade. Para ajudar na desmitificação dessas doenças, a OMS definiu a depressão como o tema para o Dia da Saúde em 2017.
Na opinião de Ana Merzel, “o que as pessoas e empresas têm que entender é que maioria das doenças é tratável. Devemos parar de tratar como algo não relevante. Quem toma um remédio para depressão, por exemplo, é como uma pessoa que toma um medicamento diário para hipertensão”.
Como identificar?
Cobramos e somos cobrados mais hoje em dia, independente da profissão. Exigimos mais de nós mesmo e o estresse, que está ligado com esse fato, é um dos problemas mais comuns entre os transtornos psicológicos. Ainda mais em um ambiente corporativo onde produtividade, metas e objetivos fazem parte da vivência. De acordo com a psicóloga do Einstein, o fácil acesso que temos a informações hoje em dia contribuiu para uma sobrecarga de conhecimentos e responsabilidades, cooperando para possíveis quadros de estresse. Esse quadro pode levar a ansiedade, depressão ou problemas físicos, como doenças cardíacas ou neurológicas.
A empresa e seus gestores devem estar atentos aos sinais de um colaborador com um possível transtorno psicológico. Uma das primeiras reações a serem percebidas é a alteração do comportamento e do humor. A pessoa fica mais quieta, evita contato social ou pode- se tornar mais agressiva e menos tolerante. Esses são sinais de atenção de acordo com Ana Merzel.
O que as empresas podem fazer
Não é difícil achar empresas que investem em programas de atividade física e de relaxamento para seus funcionários. Ana Merzel alerta que não adianta investir nessas propostas se não evitar desgastes corriqueiros como ambientes com falta de transparência, pressões desnecessárias, situações de assédio, humilhação ou relacionamentos desgastados. Coisas que acontecem no dia a dia e que podem levar a problemas maiores.
O fato de o indivíduo estar preocupado com fatores externos também deve ser respeitado e levado em conta. Levar preocupações para o ambiente de trabalho, como problemas de saúde na família, necessidades de filhos ou morte de relativos, pode diminuir o desempenho do funcionário, comprometendo todo o ambiente que o cerca. Ana Merzel exemplifica: “Um funcionário que está com o filho doente em casa. Talvez se a pessoa estivesse em casa, cuidando e amparando o filho fosse mais saudável para ela e para a própria empresa. Exigir que o profissional trabalhe em situações limite não é saudável para ninguém”.
Outro fator de atenção são os celulares. Para Ana Merzel, os smartphones alteraram a dinâmica de horário de trabalho e descanso. Grupos de conversa do trabalho trazem agilidade, mas dificulta a desvinculação do trabalho. Ela ainda questiona o uso de celular corporativo em folgas ou férias, pois em muitas situações após a ciência do problema é necessário a proximidade física para resolução do mesmo e estando distante o indivíduo que está em período de folga ou descanso poderá se angustiar e ter pouca condição de atuar sobre o problema.
O respeito ao horário do trabalho é fundamental. Assim como o respeito ao período de férias. O período de desconexão com o trabalho e com as responsabilidades é essencial para a saúde mental e deve ser mantido sempre.
Fonte: Hospital Albert Einstein